Estou muito satisfeita por o ter escrito ao fim destes anos todos porque agora, de cada vez que me vierem dizer que recebemos mal porque trabalhamos mal, é só fazer copy paste.
Já o andei a rearrumar depois de escrito, que é um vício que tenho de perder, mas fiquei contente por o ter escrito finalmente, é uma embirração antiga.
A produtividade é um tema complexo. A produtividade é influenciada por vários fatores, a tecnologia e os meios que os trabalhadores têm à disposição, a formação das pessoas, o tipo e a natureza de cada atividade económica etc.
A nossa baixa produtividade não tem de ver com o tempo que as pessoas estão no trabalho, mas sim do valor que acrescentam às atividades que exercem.
Pegando no exemplo dos pães não há obviamente nada a apontar aos padeiros sob o ponto de vista do trabalho. Mas não acho que seja um disparate, a melhor decisão a tomar seria o padeiro que produz carcaças, virar a agulha e produzir as bolinhas. Se os custos são os mesmos, a taxa de esforço a mesma, tomar a decisão de mudar é a melhor opção sob o ponto de vista da produtividade, porque irá haver aumento dos ganhos. Esse cenário permite uma melhor remuneração das pessoas que trabalham na padaria, porque o "PIB" da padaria cresceu.
O mesmo tipo de decisões de melhoria de produtividade devem ser tomadas para o crescimento da nossa economia com as consequentes benefícios daí decorrentes para todos nós como país.
No fundo, o que me pareceu importante dizer, é que é errado (intencionalmente errado) avaliar a produtividade dos trabalhadores de um país em função dos critérios utilizados para medir a produtividade das economias.
Depois disso, claro que faz sentido falar sobre a produtividade do trabalho e claro que ela é influenciada por muitos fatores (acrescento aos teus, por exemplo, a natureza das hierarquias, a estabilidade dos vínculos, a carga de trabalho e a sua distribuição, etc.).
Mas, voltando ao nosso padeiro, não concordo contigo.
Por um lado, porque nenhuma economia pode ter apenas empregos com elevada criação de valor (nem pão a preço de bolinhas hipster).
Em segundo lugar, porque não há qualquer espécie de garantia de que o aumento dos ganhos se traduzisse numa melhor remuneração - a julgar pela rotatividade de empregados da padaria hipster do meu bairro, apetece-me jurar que recebem o mesmo salário mínimo que as pessoas da padaria tradicional da rua de cima (que não existe, mas isto são outros quinze tostões, que vou deixar - literalmente - para amanhã). Portugal não tem apenas salários muito baixos, tem salários muito desiguais.
E, por último, porque não acho que a(s) economia(s) devam ter como objectivo central o crescimento nem que este deva ser inifinito. Há aqui uma mudança de paradigma muito urgente a fazer (claro que isto são ainda outros quinze tostões, mas estes vou deixar para quando tiver estudado o suficiente, o que ainda não é o caso).
A questão de não haver garantias de aumento de ganhos, depende do dono da padaria logicamente. Apenas usei a tua metáfora para aprofundar o conceito, não estou a pensar literalmente.
Há um facto inultrapassável, a Áustria a Holanda a Irlanda a Alemanha etc. etc. têm uma produção de riqueza 2, 3, 4 vezes maior que a nossa. Inevitavelmente serão mais produtivos que nós, cujas economias são de maior valor acrescentado. Tal resulta em muitas externalidades positivas quando há a maior geração de capital. Menos divida publica, mais serviços públicos, maior disponibilidade de recursos para a saúde educação, maior potencial de investimento em inovação etc.
Perante o cenário contrário, o de baixa produtividade que infelizmente é o nosso, andaremos sempre a competir na cauda da Europa e de mão estendida para os apoios.
Eu não acho que não devamos, como país, tomar decisões políticas e político-económicas que se traduzam em maior criação de valor (e portanto maior produtividade da economia, e não dos trabalhadores), não era isso que queria dizer. Estou absolutamente de acordo em que esse é um desafio essencial.
(não me posso alongar muito sobre os teus exemplos, mas não os leio desta forma linear. Acho impossível falar deles sem olhar para a reinvenção da Irlanda enquanto paraíso fiscal ou para os problemas da falta de investimento em infraestruturas da Alemanha das últimas décadas)
Quanto à Irlanda ter criado um clima fiscal mais amigável para as empresas, é uma opção politica como qualquer outra. No entanto creio que haverá uma relação entre essa estratégia e o consistente crescimento do PIB no tempo, bem como o rendimento médio anual dos irlandeses de 3.680€ (em Portugal o rendimento médio é de1 600€).
Este é um tema que me interessa muito e lê-lo escrito por ti é maravilhoso!
Estou muito satisfeita por o ter escrito ao fim destes anos todos porque agora, de cada vez que me vierem dizer que recebemos mal porque trabalhamos mal, é só fazer copy paste.
Que bom texto!
Já o andei a rearrumar depois de escrito, que é um vício que tenho de perder, mas fiquei contente por o ter escrito finalmente, é uma embirração antiga.
A produtividade é um tema complexo. A produtividade é influenciada por vários fatores, a tecnologia e os meios que os trabalhadores têm à disposição, a formação das pessoas, o tipo e a natureza de cada atividade económica etc.
A nossa baixa produtividade não tem de ver com o tempo que as pessoas estão no trabalho, mas sim do valor que acrescentam às atividades que exercem.
Pegando no exemplo dos pães não há obviamente nada a apontar aos padeiros sob o ponto de vista do trabalho. Mas não acho que seja um disparate, a melhor decisão a tomar seria o padeiro que produz carcaças, virar a agulha e produzir as bolinhas. Se os custos são os mesmos, a taxa de esforço a mesma, tomar a decisão de mudar é a melhor opção sob o ponto de vista da produtividade, porque irá haver aumento dos ganhos. Esse cenário permite uma melhor remuneração das pessoas que trabalham na padaria, porque o "PIB" da padaria cresceu.
O mesmo tipo de decisões de melhoria de produtividade devem ser tomadas para o crescimento da nossa economia com as consequentes benefícios daí decorrentes para todos nós como país.
No fundo, o que me pareceu importante dizer, é que é errado (intencionalmente errado) avaliar a produtividade dos trabalhadores de um país em função dos critérios utilizados para medir a produtividade das economias.
Depois disso, claro que faz sentido falar sobre a produtividade do trabalho e claro que ela é influenciada por muitos fatores (acrescento aos teus, por exemplo, a natureza das hierarquias, a estabilidade dos vínculos, a carga de trabalho e a sua distribuição, etc.).
Mas, voltando ao nosso padeiro, não concordo contigo.
Por um lado, porque nenhuma economia pode ter apenas empregos com elevada criação de valor (nem pão a preço de bolinhas hipster).
Em segundo lugar, porque não há qualquer espécie de garantia de que o aumento dos ganhos se traduzisse numa melhor remuneração - a julgar pela rotatividade de empregados da padaria hipster do meu bairro, apetece-me jurar que recebem o mesmo salário mínimo que as pessoas da padaria tradicional da rua de cima (que não existe, mas isto são outros quinze tostões, que vou deixar - literalmente - para amanhã). Portugal não tem apenas salários muito baixos, tem salários muito desiguais.
E, por último, porque não acho que a(s) economia(s) devam ter como objectivo central o crescimento nem que este deva ser inifinito. Há aqui uma mudança de paradigma muito urgente a fazer (claro que isto são ainda outros quinze tostões, mas estes vou deixar para quando tiver estudado o suficiente, o que ainda não é o caso).
A questão de não haver garantias de aumento de ganhos, depende do dono da padaria logicamente. Apenas usei a tua metáfora para aprofundar o conceito, não estou a pensar literalmente.
Há um facto inultrapassável, a Áustria a Holanda a Irlanda a Alemanha etc. etc. têm uma produção de riqueza 2, 3, 4 vezes maior que a nossa. Inevitavelmente serão mais produtivos que nós, cujas economias são de maior valor acrescentado. Tal resulta em muitas externalidades positivas quando há a maior geração de capital. Menos divida publica, mais serviços públicos, maior disponibilidade de recursos para a saúde educação, maior potencial de investimento em inovação etc.
Perante o cenário contrário, o de baixa produtividade que infelizmente é o nosso, andaremos sempre a competir na cauda da Europa e de mão estendida para os apoios.
Eu não acho que não devamos, como país, tomar decisões políticas e político-económicas que se traduzam em maior criação de valor (e portanto maior produtividade da economia, e não dos trabalhadores), não era isso que queria dizer. Estou absolutamente de acordo em que esse é um desafio essencial.
(não me posso alongar muito sobre os teus exemplos, mas não os leio desta forma linear. Acho impossível falar deles sem olhar para a reinvenção da Irlanda enquanto paraíso fiscal ou para os problemas da falta de investimento em infraestruturas da Alemanha das últimas décadas)
Estamos de acordo.
Quanto à Irlanda ter criado um clima fiscal mais amigável para as empresas, é uma opção politica como qualquer outra. No entanto creio que haverá uma relação entre essa estratégia e o consistente crescimento do PIB no tempo, bem como o rendimento médio anual dos irlandeses de 3.680€ (em Portugal o rendimento médio é de1 600€).