plantas
o estranho caso da rapariga que desenhava plantas de apartamentos nos cadernos de folhas quadriculadas da escola primária
Se abrissem os meus cadernos de matemática da escola primária, era provável encontrassem plantas de apartamente perdidas nos espaços em branco, aproveitando os quadradinhos.
O motivo era a minha ambição: quando tinha sete ou oito anos, perguntei à minha mãe em que profissão se ganhava muito dinheiro. A minha mãe, Deus lhe perdoe, disse “arquitetura”, pelo que ser arquiteta se tornou durante alguns anos o meu objetivo profissional.
(a sorte dela, claro, foi que eu não lhe segui o conselho, senão imagino que estivesse tão remediada como agora, mas cheia de ressentimentos. Melhor assim, ser a única dona das minhas escolhas e as suas consequências…)
Isso podia ter-me dado para desenhar casas ou prédios mas eu, mais talhada para doméstica do que para visionária, comecei a desenhar plantas de apartamentos.
Já não sei se aprendi com a minha mãe ou nas revistas de decoração espanholas que circulavam lá por casa, mas desenhava-as corretamente, divisão a divisão, às vezes com régua, às vezes sem, com portas a mostrar a direção para onde abriam e o espaço que ocupavam, janelas, loiças sanitárias, às vezes até móveis. A maior parte das vezes pensava nelas para mim, mas claro que também desenhava algumas casas para pessoas ou famílias imaginárias (as tais que me iriam pagar imenso dinheiro).
Fazendo uma espécie de arqueologia pessoal, suponho que tenha perdido o desejo de ser arquiteta quando passei a sonhar ser escritora, primeiro, jornalista, depois, deputada, a seguir, e por fim professora, o único que concretizei.
Mas nunca deixei realmente de desenhar plantas, de pensar as casas em duas dimensões e de comprar revistas de decoração espanholas de vez em quando.
Outras plantas
Este texto foi escrito no âmbito de um projeto que junta algumas das minhas pessoas favoritas da internet a escrever sobre o mesmo tema todas as semanas.
Podem ler mais sobre plantas aqui:
A Curva - Plantas
A Gata Christie - Planta
Dois Dedos de Conversa
Gralha dixit - Plantas
O blog azul turquesa - Planta
Panados e Arroz de Tomate - Planta
Quinta da Cruz de Pedra - Plantas*
(*subscrevo este texto na íntegra, no meu caso sobre Berlim. O contacto com a natureza é aquilo de que sinto mais falta no meu dia a dia depois de regressar a Portugal. Que saudades dos parques grandes em que se esquecia a cidade, sempre e em cada bairro, que saudades das árvores de grande porte, que saudades de haver metro para a floresta. Acho que nunca hei-de resignar-me a viver numa rua sem uma única arvénzinha.)
eu também! mas não desenhava em planta, era assim uma coisa mais estranha em perspectiva. tinha sempre biblioteca e sala de cinema. também desenhava teclados de computador nos cadernos e fingia que era a sobrinha do inspetor gadget a resolver problemas no seu portátil.
Entretanto, sendo tu uma pessoa que escreve, e bem!, és escritora. Só na língua portuguesa é que esta palavrinha vem armada ao pingarelho e traz o mofo classicista de outros tempos 😉