Enquanto pensava sobre o que havia de escrever nesta semana dedicada às teias de aranha, dei com a avó-aranha, uma figura mitológica que participa na criação do mundo nalgumas cosmogonias e que é sábia e benevolente para com os humanos (excepto as crianças mal comportadas, que são prontamente comidas). Gostei particularmente da ideia de como fez as estrelas, capturando gotas de orvalho na sua teia, esticando-a e largando-a de seguida como uma fisga, para atirá-las para o céu - a descrição era mais bonita que isto e pode ter imprecisões, mas infelizmente já não a encontro em lado nenhum.
Por falar em avós sábias: a minha bisavó era uma mulher inteligente e divertida, autora de muitas pérolas que são constantemente repetidas na família (a minha favorita é este insulto que terá dito um dia a um convencido qualquer: “Eu também gostava de ser quem o senhor pensa que é”).
Uma das coisas que a minha avó mais gostava de citar era a sua falta de paciência contra quem “tira as teias de aranha e não mata a aranha”. Acho que ela falava disso no sentido literal, não fazia coaching de executivos, mas tem o seu quê.Por falar em matar aranhas, uma anedota caseira:
Sabem qual é a diferença entre um namorado português e um nanorado alemão? O namorado alemão pega na aranha com muito cuidado e põe-na na rua, enquanto o português a mata.
(adaptei para aranhas, mas o bicho dos meus pesadelos são as borboletas da noite. Claro que em teoria prefiro o modus operandi alemão mas, na prática, quando estou aterrorizada, dou graças aos deuses por me terem atribuído um português)Por falar em namorados: esta semana tive um sonho pré-erótico. Estava com o meu namorado num quarto de hotel, olhei para ele e considerei desapertar-lhe a camisa. Acordei sobressaltada: seria a minha líbido? A emergir vitoriosa das teias de aranha?
Mas depois reconheci a camisa e fiquei mais tranquila - era a mesma camisa que eu tinha passada a tarde a tentar livrar de uma nódoa persistente. Não era “uma tentação íntima gigantesca”, era desvelo doméstico.E por falar em erotismo: eu sei que nada excita tanto o João Miguel Tavares como uma nova oportunidade para tirar as teias de aranha ao seu assunto favorito - José Sócrates. Mas, ainda assim, não é extraordinário que tenha escrito um artigo sobre a corrupção dos primeiros-ministros dos últimos vinte anos sem usar as expressões Tecnoforma ou aeródromo?
Às tantas é de mim, que me excito com outras coisas. Por exemplo homens que ficam bem de camisa.
(Não vou acrescentar um 6º ponto mas, já que juntámos Sócrates e teias de aranha num mesmo texto por coincidência, seria interessante discutir porque falhou com ele a sentença, habitualmente certeira, de Anacharsis sobre as leis, de que são como teias de aranha, que apanham os pobres e fracos mas não conseguem deter os influentes e poderosos. Tenho o meu palpite)
Outras teias de aranha:
Este texto foi escrito no âmbito de um projeto que junta algumas das minhas pessoas favoritas da internet a escrever sobre o mesmo tema todas as semanas. À medida que forem sendo publicados, virei cá colocar ligações para os restantes textos, mas deixo já os links para cada página, por ordem mais ou menos alfabética, para os mais impacientes:
O blogue azul turquesa — Teias de aranha
A Curva — Teias de Aranha
2 Dedos de Conversa
A Gata Christie — Teias de Aranha
Gralha dixit — Teias de aranha
Panados e Arroz de Tomate — Teias de Aranha
Acho que esse insulto vai pegar. Eu pelo menos vou pegar nele. Sabias avós!
Não me canso: tão bom!